Primeiro caso suspeito foi registrado em Itajaí, em uma menina de 7 anos; segundo paciente é um adolescente de 16 anos
A misteriosa nova hepatite, que preocupa médicos e pais e afeta crianças, já possui dois casos suspeitos SC. O primeiro é de Itajaí, Litoral Norte de Santa Catarina. A menina de 7 anos estava internada no Hospital Infantil Pequeno Anjo e já foi liberada na segunda-feira (9). O segundo é de um adolescente de 16 anos, de Balneário Camboriú, também no Litoral Norte.
Conforme a SES (Secretaria de Estado da Saúde), a menina apresentava quadro de hepatite aguda, inflamação do fígado, pele e olhos amarelados, náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal.
No hospital foi constatado por meio de exame laboratorial o aumento das transaminases (enzimas hepáticas). A criança recebeu atendimento adequado, tendo recebido alta hospitalar por apresentar bom estado geral e exames laboratoriais em melhora, para acompanhamento ambulatorial.
Já o segundo caso foi registrado nesta segunda-feira (9). Segundo a Dive (Diretoria de Vigilância Epidemiológica) do Estado, o paciente é um adolescente de 16 anos. Ele foi inicialmente avaliado em um hospital de Balneário Camboriú, no dia 5 de maio.
O adolescente havia iniciado com os sintomas em 29 de abril, como: náuseas, vômito, sonolência, urina de cor escura e febre, além de alterações nas enzimas hepáticas evidenciadas nos exames laboratoriais. Ele aguarda resultado de exames para hepatite do tipo A, sendo negativo para os tipos B e C, além de outros exames complementares. O jovem não precisou ser internado e está sendo acompanhado em casa pela vigilância epidemiológica estadual e municipal.
Os casos foram atendidos conforme fluxo estabelecido na Nota de Alerta nº 07/2022 – CIEVS/DIVE/LACEN/SUV/SES/SC, notificados ao Ministério da Saúde pelo CIEVS. “Assim que tomamos conhecimento dos casos, seguimos o protocolo e informamos imediatamente ao Ministério da Saúde. Além desse procedimento, continuamos acompanhando e prestando apoio aos municípios na investigação dos casos notificados”, informou o médico infectologista do CIEVS, Fábio Gaudenzi. Em nível mundial, diversos estudos estão sendo realizados para verificar possíveis relações da doença com outros vírus.
Os casos estão sendo investigados pelas Secretarias de Saúde Municipais de Itajaí e Balneário Camboriú com apoio da DIVE e do LACEN/SC (Laboratório Central de Santa Catarina) para a realização dos exames laboratoriais necessários.
O que é a doença?
Conforme a médica gastropediatra Luciana Fossari, presidente do Departamento de Gastropediatria da SCP (Sociedade Catarinense de Pediatria) e professora adjunta do Departamento de Pediatria da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), essa doença é um tipo de hepatite aguda, de origem ainda desconhecida que vem sendo relatada em diversos países. A doença tem acometido principalmente crianças de até 16 anos, em especial os menores de 5.
Ela ainda afirma que esta doença não tem relação direta com os vírus conhecidos da hepatite, e 10% dos casos se apresentaram de forma fulminante, com insuficiência hepática aguda com evolução para transplante de fígado e a um caso de óbito.
A hepatite é uma inflamação do fígado que pode ter diversas causas, que geralmente vão desde infecções virais até consumo excessivo de álcool, alguns medicamentos e substâncias tóxicas.
Os principais vírus que causam hepatite são A, B, C, D e E. Há ainda as hepatites autoimunes, que são doenças crônicas em que o próprio sistema imunológico do indivíduo ataca as células do fígado, causando inflamação e alteração da função do órgão.
Quais os sintomas?
Conforme Fossari, essa doença apresenta sintomas clínicos que incluem inflamação no fígado com com aumento dos níveis das enzimas hepáticas. Os pacientes também costumam ficar com os olhos e com a pele amarelados. “Muitos pacientes apresentaram sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, diarreia e/ou vômitos e a maioria não apresentou febre”, completa.
Como a doença ainda é misteriosa, o tratamento atual busca aliviar os sintomas, e inclui repouso, hidratação e manejar e estabilizar o paciente se o caso for grave.
“Os pais devem estar atentos aos sintomas, como dor abdominal, diarreia ou vômito, e icterícia (pele e a parte branca dos olhos ficam amareladas). Nesses casos, devem procurar atendimento médico imediatamente. Além disso, reforçar as medidas básicas de higiene, como lavar as mãos e cobrir a boca ao tossir ou espirrar para prevenir infecções”, afirma.
Relação com Covid?
A causa ainda é desconhecida. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), até 29 de abril de 2022, mais de 200 casos haviam sido relatados no mundo.
Destes 200, o adenovírus, agente causador da hepatite, foi detectado em pelo menos 74 casos, e em 20 foi detectado o mesmo vírus causador da Covid-19. Em 19 casos, foi detectado uma infecção de ambos, o adenovírus e o SARS-CoV-2. “Entretanto sua real causa ainda está em investigação”, reforça.
A gastropediatra ainda garante que a OMS já descartou relação da hepatite com as vacinas contra Covid-19. “Até o momento a maioria das crianças relatadas com a hepatite aguda não recebeu a vacina contra Covid-19, descartando esta relação”, explica.
Primeiros casos registrados
Os primeiros dez casos desta hepatite aguda foram relatados pelo Reino Unido à OMS em 5 de abril. Um caso fatal já foi relatado na Europa e outros três na Indonésia. A idade dos afetados varia de 1 mês a 16 anos.
Os infectados eram crianças menores de 10 anos sem doenças anteriores e, desde então, infecções também foram detectadas na Espanha, Israel, Dinamarca, Itália, Estados Unidos e Bélgica.
Segundo a OMS, existe uma investigação para descobrir o agente causador do que, neste momento, a entidade classifica como “hepatite aguda de etiologia desconhecida”. Entre as hipóteses, conforme a organização, estão a infecção por um adenovírus ou outro tipo de agente. Os pesquisadores investigam, também, ainda a possibilidade de a doença ser uma sequela da Covid-19.
A SUV (Superintendência de Vigilância em Saúde), por meio do CIEVS (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde) da Dive (Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina), orientou todos os serviços de saúde através de uma nota para que estejam em alerta para os pacientes que se enquadrem nos sintomas.
Confira o documento da Dive, clicando aqui.