Em entrevista, mãe relata que médicos e enfermeiras tentaram de todas as formas salvar a vida de Sofia
As marcas causadas pelo desespero, a impotência e a dor ainda sentida por Samara Ester dos Santos, que perdeu a filha de dois meses na fila por um leito serão carregadas pela vida toda. A menina faleceu sábado, depois de passar dois dias aguardando uma vaga na UTI do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, ao ter o quadro de bronquiolite agravado.
Segundo o que conta a mãe, Samara Ester dos Santos, a primeira internação da menina aconteceu no ínicio de maio quando a doença foi detectada. Na época, Sofia deu entrada no hospital já em um leito de UTI, onde ficou por cerca de 13 dias. No entanto, a mãe conta que a menina ganhou alta, mesmo sem condições de voltar para casa, quando a instituição começou a ficar superlotada.
— Ela não poderia ter saído, não tava 100%. Liberaram ela porque tinha mais crianças para ir à UTI e é isso que eles estão fazendo, liberando quem não precisa mais de respirador e mandando para casa. Eles falam: "Quem puder ir para casa, vá, nós não temos mais espaço". A Sofia piorou e a gente teve que voltar, ela teve parada respiratória na ambulância, quando a gente estava indo ao hospital novamente — conta a mãe.
A bebê foi internada pela segunda vez no dia 4 de junho e piorou após quatro dias no hospital. Foi na última quinta-feira (9) que Maria Sofia precisou novamente de um leito de UTI, mas teve a transferência negada por falta de vagas no local. Foram três dias de desespero: os médicos tentando de qualquer forma salvar a vida de Sofia e a família que sentia a filha "indo embora", mas sem condições de resolver o problema dela.
Sem leitos de UTI e com a piora no quadro de bronquiolite, que se agravava com uma pneumonia, a menina foi enviada para a emergência do hospital poucas horas antes de falecer. Lá, passou por procedimentos similares aos de uma unidade de terapia intensiva, mas sem os aparelhos e suportes necessários para o tratamento, segundo o que relembra a mãe.
— Na sexta-feira de manhã a médica me disse que um pulmão da Sofia já estava fechado e eles não tinham onde colocar ela. Os médicos que a atenderam antes de ela falecer ficaram comigo até o fim. As enfermeiras choraram comigo pedindo desculpas, eles [os médicos] estão sem suporte. Para fazer reanimação da Sofia, por exemplo, não tinha aparelho, se viraram em mil. Elas falaram: "mãe, desculpa, a gente não tinha mais o que fazer" — diz.
A Secretaria do Estado da Saúde afirmou estar prestando assistência a família após a morte, mas foi contraditada pela mãe da menina que negou a afirmação ao dizer que, em nenhum momento, o hospital entrou em contato com eles. Entre às 00h23 do sábado (11), quando foi detectada a morte de Sofia, e esta terça-feira (14), não houve nenhuma conversa entre a instituição e os familiares.
— É desesperador, tava vendo minha filha indo embora na minha frente e não podia fazer nada. A Sofia morreu na emergência porque não tinha UTI para ela, quando arrumaram vaga, ela já tinha morrido — relembra Samara.
A mãe conta que mesmo se Sofia conseguisse um leito havia risco de morte por conta da gravidade da situação. No entanto, acredita que o suporte de aparelhos em uma UTI e o menor tempo de espera para que o caso fosse resolvido, poderia salvá-la.
A reportagem do Diário Catarinense entrou novamente em contato com a Secretaria do Estado da Saúde, mas não obteve respostas até a publicação desta matéria. A última nota enviada pelo órgão ao DC afirmava a assitência à família e a investigação do caso.
Com informações do NSCTotal