Antes utilizadas pelo governo do Estado, unidades já pertencem ao município, que argumenta falta de recursos para reparar danos causados após fechamento dos espaços
Pelo terceiro ano seguido duas estruturas educacionais de Tubarão seguirão fechadas e não atenderão a demanda de alunos da Cidade Azul. Tanto a Escola de Educação Básica (EEB) Visconde de Mauá, no bairro Oficinas, quanto a Angélica Cabral, na comunidade de São Bernardo, estão desativadas desde o fim de 2015. No papel, o que era pra ser uma transferência do Estado para o Município, uma reforma das unidades e uma diminuição na demanda das vagas para os mais novos, continua no planejamento. Mesmo após todo esse tempo, ainda não foi da teoria à prática.
O Noticom visitou as duas estruturas nos dias que antecedem o retorno dos alunos aos centros educacionais de Tubarão. No bairro São Bernardo, a reportagem conseguiu entrar no local onde funcionava a Angélica Cabral. Em Oficinas os portões estão trancados, o muro é alto e não há condições de observar a situação do Visconde de Mauá de perto. Como a data de fechamento dos dois espaços foi a mesma, pode-se concluir que a situação do interior também é semelhante.
No Angélica Cabral poucos ventiladores de teto resistem ao tempo, mas alguns estão com danos. No forro, a falta de cuidados do poder público gerou desabamentos em algumas salas da antiga escola. Determinadas portas que antes separavam estudantes entre um espaço e outro hoje estão caídas e facilitam a entrada de moradores de rua e usuários de drogas. O tráfico, conforme alguns membros da comunidade do São Bernardo, também acontece no local. A reportagem foi orientada por algumas pessoas para tomar cuidado dentro da antiga unidade educacional. “Infelizmente eles entram aí sempre. A gente tinha certeza que isso aconteceria. Eu não queria que fechasse, mas eles vieram com aquela desculpa de poucos alunos. E agora?”, questiona uma moradora.
No Visconde de Mauá, os muros que cercam a antiga escola, na rua dos Ferroviários, não conseguem esconder a situação crítica do espaço. Há muito mato do lado de fora e por dentro. A própria estrutura de concreto não é pintada há anos. Algumas partes do forro estão claramente desabando, vidros estão abertos e as paredes da escola buscam resistir à falta de cuidados. Pela frente, pouco se enxerga de uma das mais tradicionais unidades educacionais de Tubarão. Quem trafega da rua Altamiro Guimarães olha para o lado e vê muito mato e poucos resquícios de um local que recebia, antes, centenas de crianças e adolescentes. “Perderam a identidade do bairro. A gente paga um monte de imposto e eles dizem que não têm dinheiro para manter uma escola. Pior que não reformam e ela fica aí abandonada”, lamentou um senhor no momento que a reportagem fotografava o espaço, nesta quarta-feira, 14.
Processo de reforma caminha lentamente
O anúncio do fechamento das duas unidades aconteceu no dia 28 de outubro de 2015. Desde aquela data a união de forças das lideranças estaduais e municipais não foi o bastante para que o processo de transferência da posse fosse rápido. Pelo contrário. Somente em 28 de julho de 2017, quase dois anos depois, a prefeitura de Tubarão recebeu a cessão das escolas. No ato, realizado na sede da Agência de Desenvolvimento Regional de Tubarão (ADR), o vice-prefeito e secretário de Gestão, Caio Tokarski (PSD), exercia o cargo de prefeito em exercício. “Temos hoje em Tubarão uma demanda de 700 crianças que necessitam de vagas na Educação Infantil. Depois de reformadas, as duas escolas, juntas, poderão receber de forma adequada, de 250 a 300 crianças, ajudando a aliviar a procura”, disse, à época, o político. Matéria oficial no site da prefeitura da Cidade Azul contou que “o município já tem recursos assegurados para a reforma das duas unidades, por meio de emenda parlamentar do deputado federal Jorge Boeira”. Por ora, não há encaminhamentos assegurados para que isso ocorra. Como 2018 é ano eleitoral, a transferência de recursos entre poderes só pode acontecer até o início de julho.
Estudantes foram transferidos para unidades próximas
Os alunos do bairro São Bernardo que tinham aula na Angélica Cabral foram transferidos para outras três unidades de ensino: Célia Coelho Cruz (São João ME), Martinho Alves dos Santos e a municipal São Martinho. A Escola de Educação Básica era frequentada por 94 alunos.
Já os educandos da Visconde de Mauá (175 pessoas à época) apenas precisaram caminhar um pouco mais. Eles foram transferidos para a EEB Francisco Benjamin Gallotti, que fica ao lado.
Sem respostas
Procurada pelo Noticom, a Fundação Municipal de Educação (FME) confirmou o interesse em transformar as Unidades em Centros de Educação Infantil (CEI’s). O objetivo é criar 400 vagas em período integral nos dois locais. Por causa dos danos, disse a FME, os custos de reforma serão de R$ 750 mil para cada espaço de ensino. A prefeitura também informou que vai colocar placas na frente do Mauá e do Angélica Cabral informando sobre o processo de revitalização, para que os vândalos sejam contidos e a comunidade auxilie nos cuidados. Por fim, a Fundação contou que atualmente são 180 crianças na fila de espera em Tubarão.
Deu no Noticom
Na edição de 17 de novembro o Noticom chamou atenção para o caso. “O problema foi evidenciado por um professor durante a semana. Na sessão da Câmara de Vereadores da última segunda-feira, 13, em Tubarão, o vereador Paulão (PT) chamou atenção para o risco de queda do telhado da instituição de ensino, que fica na esquina da rua Altamiro Guimarães com a rua dos Ferroviários”, dizia a reportagem produzida há quase três meses.
[caption id="attachment_7786" align="aligncenter" width="900"] "No Angélica Cabral poucos ventiladores de teto resistem ao tempo, mas alguns estão com danos. No forro, a falta de cuidados do poder público gerou desabamentos em algumas salas da antiga escola. Determinadas portas que antes separavam estudantes entre um espaço e outro hoje estão caídas e facilitam a entrada de moradores de rua e usuários de drogas."[/caption] Foto: Noticom