Para presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, há risco de violência contra grupos específicos. SC teve episódios recentes de pichações, carta com ameaças e gesto suspeito em manifestação.
Recentemente, o estado de Santa Catarina teve episódios ligados à ideologia nazista. Entre eles, a manifestação de um professor da rede pública que elogiou Hitler na web, o gesto suspeito em um protesto antidemocrático e a carta com ameaças contra gays, feministas, negros e asiáticos, enviada à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Todos os casos são investigados.
O g1 SC procurou especialistas para explicar a violência que envolve o nazismo e avaliar o aumento de casos. Eles alertaram para o perigo desta ideologia "que prega uma superioridade racial".
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Santa Catarina, Rodrigo Sartoti, explicou o que é a ideologia nazista.
"É uma ideologia que prega uma superioridade racial, que acham que existe", resumiu. "É uma doutrina de extrema-direita, é uma doutrina que prega essa superioridade contra alguns grupos étnicos. É uma ideologia que não é só a tática em si, mas a doutrina prega isso, é contrária à democracia liberal, é antiliberal", continuou.
"A gente sabe o horror que foi o holocausto, foi resultado daquilo que o nazismo perpetuou", afirmou. O holocausto foi o episódio histórico que resultou no assassinato de 6 milhões de judeus pelo regime nazista.
Perigos
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos, o perigo da propagação da ideologia nazista é, inclusive, de violência física.
A lei número 7.716/1989 define os crimes resultantes de preconceito. No parágrafo primeiro do artigo 20, ela aborda o nazismo.
Está escrito que é crime "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo".
"Há um risco muito concreto, espero que não aconteça, de violência a grupos específicos, negros, pessoas LGBT, mulheres, pessoas com deficiência. Também há o perigo da perda de conquistas de direitos desses grupos", afirmou.
A professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Mariana Joffily falou sobre consequências na política.
"A questão é compreender o que exatamente está sendo exaltado e reverenciado nessa reapropriação de símbolos e gestos nazistas. Tudo indica que é uma concepção de política na qual a disputa saudável entre diferentes projetos, civilizada e mediada pelo jogo democrático é totalmente negada", disse.
"Os adversários são reduzidos a uma categoria única, de inimigo, que deve ser combatido e mesmo, exterminado. Essa concepção de política nega a própria política, na medida em que a sociedade, a coletividade é negada em suas diferenças e multiplicidade. E, claro, é sumamente antidemocrática e autoritária", completou a professora.
Propagação em Santa Catarina
A propagação de ideias nazistas em Santa Catarina não é de hoje, conforme Sartori. "Não é algo novo, ocorre há décadas, desde a Segunda Guerra Mundial", disse. Segundo ele, havia o intercâmbio de ideias entre o estado catarinense e a Alemanha nazista nas décadas de 1930 e 1940.
Sartori disse, porém, que a propagação tem aumentado recentemente. "As pessoas [nazistas] têm se sentido mais à vontade para agir, fazer pichações, por conta da conjuntura, do crescimento de uma extrema-direita violenta, que tem se colocado contrária a pautas das mulheres, LGBT, pessoas em situação de rua, racismo", afirmou.
Ele opinou sobre uma forma de diminuir a propagação da ideologia nazista.
"É importante a criminalização, propagação do nazismo é crime no Brasil. Mas a gente precisa atuar não apenas no campo criminal, precisa educar as pessoas, ensinar as pessoas que essa doutrina não pode ser propagada, precisa ser rechaçada. A ideologia em si é racista, antiliberal, antidemocracia. Isso é o mais importante: por meio da educação, a gente consegue resolver. A gente não pode mais tolerar isso".
Atos nazistas em SC
Santa Catarina registrou episódios recentes de apologia ao nazismo. Nesta quinta-feira (3), uma carta com conteúdo de ódio endereçada ao Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi encaminhada à Polícia Civil.
No texto, o grupo prega ódio contra gays, feministas, negros, gordas e asiáticos, e diz que a polícia não o intimida. Além disso, a universidade foi alvo de diversas pichações nazistas.
Outro episódio no estado é investigado pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). Na quarta (2), um grupo de manifestantes fez um gesto semelhante a uma saudação nazista durante um ato antidemocrático em São Miguel do Oeste, no Oeste catarinense.
A apuração preliminar do órgão apontou que não houve intenção de apologia ao nazismo. Porém, o relatório foi enviado à 40ª Promotoria de Justiça da Capital, que vai continuar a investigação.
Com informações do G1 SC