Teste mostrou boas perspectivas no combate de subtipo genético da doença, considerado um dos mais graves
O câncer de mama é a neoplasia que mais atinge as mulheres e o principal tipo de câncer causador de mortes entre o público feminino no país. De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), foram estimados 73.610 novos casos da doença em 2023, uma estimativa de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres brasileiras.
Sendo uma das principais ameaças à saúde feminina, a busca por tratamentos e prevenções se torna cada vez mais frequente. Diante disso, cientistas desenvolveram uma vacina contra um subtipo do câncer de mama agressivo, porém menos frequente — o câncer de mama triplo negativo.
A Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) explica que esse subtipo equivale a 15% de todos os quadros que afetam o órgão e que costuma ocorrer em mulheres jovens (com menos de 40 anos), latinas e negras, ou entre aquelas que possuem mutação nos genes BRCA1 e/ou BRCA2.
Os genes BRCA1 e BRCA2 são hereditários, e responsáveis por proteger o corpo do surgimento tumoral. No entanto, quando essas moléculas sofrem mutações, essa função diminui e as chances de desenvolvimento do câncer aumentam.
Dessa forma, quando há histórico familiar, é necessário que haja acompanhamento anual entre os parentes, visto o desenvolvimento acelerado deste tumor.
Em parceria, a empresa de biotecnologia Anixa Biosciences e a Cleveland Clinic Cancer Institute, com financiamento do Departamento de Defesa dos EUA, mostraram respostas promissoras da vacina em desenvolvimento por ambas.
Os resultados, divulgados no Simpósio de Câncer de Mama de San Antonio de 2023, expuseram que, entre as 16 pessoas que fizeram parte da primeira fase de testes da vacina, aplicada em três doses, a maioria delas desenvolveu e aumentou a resposta imune (células T) desde o início do tratamento.
“Os dados do nosso ensaio de primeira fase, até agora, superaram as nossas expectativas, e estamos satisfeitos com o nosso progresso. Esta vacina foi projetada para direcionar o sistema imunológico para destruir as células cancerígenas do câncer de mama triplo-negativo por meio de um mecanismo que nunca foi utilizado anteriormente para o desenvolvimento de vacinas contra o câncer,” afirmou Amit Kumar, presidente e CEO da Anixa Biosciences.
“Estamos ansiosos para revisar dados adicionais, à medida que o ensaio for concluído, e estamos nos estágios de planejamento dos estudos de fases dois e três desta vacina. Nosso objetivo é avaliar, inicialmente, a capacidade da vacina de prevenir a recorrência do câncer em sobreviventes e continuar com estudos de extensão para, eventualmente, determinar sua eficácia na prevenção do aparecimento inicial da doença.”
Para o funcionamento, a vacina desenvolvida pela parceria das empresas utiliza proteínas produzidas pelo próprio corpo em determinados períodos da vida, como a α-lactalbumina, que não é mais encontrada após a lactação em tecidos normais e envelhecidos, mas está presente na maioria dos cânceres de mama triplo-negativos.
Ao ativar o sistema inume contra esta proteína, o organismo passa a presentar proteção contra tumores que secretem a α-lactalbumina.
Ainda, o imunizante também contém um adjuvante que estimula uma resposta imune inata, o que permite que o sistema imunológico crie uma resposta contra tumores emergentes para inibir seu crescimento.
“Estamos animados com os coletados até o momento e esperamos determinar a dose ideal da vacina em coortes adicionais de pacientes. Nossa esperança é que estudos futuros demonstrem que as respostas de células T específicas do antígeno que observamos se transformem em prevenção ao câncer de mama”, finaliza Thomas Budd, médico da equipe da Cleveland Clinic Cancer Institute.