Forma de notificar casos confirmados com testes em casa divide opiniões; agência pediu mais regras e informações antes de liberação
O autoteste de Covid, que permite ao próprio paciente identificar em casa se está ou não com a doença, vem sendo apontado como um possível reforço no momento atual da pandemia de Covid-19. A alta de casos pela variante Ômicron tem provocado uma corrida pelos testes, que estão em falta em alguns municípios e até nas farmácias. Ao mesmo tempo, a liberação do autoteste divide opiniões e é vista com ressalvas por alguns especialistas. Isso porque poderia dificultar a notificação dos casos ao poder público e as estratégias de isolamento e controle do contágio.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se reuniu nesta quarta-feira (19) para decidir se libera o uso de autotestes no Brasil. O item já é utilizado em outros países do mundo desde o ano passado. No entanto, por 4 votos a 1, a Anvisa pediu mais informações e regras sobre notificação de casos ao Ministério da Saúde antes de decidir sobre a liberação ou não deste tipo de testes. A resposta do governo deve ser enviada em até 15 dias.
A principal polêmica sobre os autotestes é a possibilidade de subnotificação de casos. O infectologista Martoni Moura e Silva afirma que para liberar os autotestes, seria preciso uma logística e um protocolo para a população fazer uso deles. Essa política pública envolveria, sobretudo, a comunicação sobre a necessidade de notificar os casos positivos de forma correta.
— Se a pessoa pega o autoteste e não tem o rigor de comunicar o resultado, ela pode dizer o resultado que quiser, mudar diagnóstico, o que é temerário. Não faz bem colocar essa possibilidade de obter o próprio diagnóstico como algo simples, porque envolve uma responsabilidade — avalia.
Além disso, ele afirma que até que o autoteste seja liberado e chegue à população, seja por venda em farmácias ou pela distribuição pelo poder público, a onda atual de casos relacionada à variante Ômicron já deverá ter passado.
— Para liberar o autoteste, seria preciso educar a população, criar uma política de saúde, exigir que os casos sejam reportados pelas pessoas. A Anvisa está demorando na análise porque o assunto é polêmico — avalia.
Apesar desse alerta para o risco de subnotificação, há quem defenda que o autoteste poderia ajudar no momento atual da pandemia. Nesta quarta-feira, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, chamou de “polêmica boba” a discussão sobre o possível prejuízo à comunicação dos casos com os autotestes e disse que a cidade já tem uma plataforma em que os moradores poderiam notificar seus casos.
“O erro está na falta de testes”, diz especialista
O consultor de saúde da Federação Catarinense dos Municípios (Fecam), Jaílson Lima, afirma que o ideal seria que o governo continuasse a garantir testes de antígeno ou RT-PCR, mas que como há falta desses tipos de testagem, o autoteste ainda é “melhor do que não ter nada”.
— Ele já deveria ter sido liberado antes, sim, mas deve ser liberado agora porque está faltando testes. O caminho (ideal) seria o governo ter garantido estoques de testes — cobra.
O infectologista Martoni Moura e Silva também afirma que a discussão sobre os autotestes tira o foco da falta de testes e transfere para a população a responsabilidade de testagem da doença, que deveria ser do poder público.
— Tinha que testar todo mundo, e não tem testes. O erro está aí — aponta.
Segundo o consultor da Fecam, caso os autotestes sejam liberados, a tendência é que os municípios catarinenses utilizassem as equipes de agentes de saúde para reportar os casos positivos identificados pela autotestagem em seus relatórios. A reportagem questionou à Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive-SC) sobre possíveis reflexos do autoteste na estrutura de saúde de SC, mas o órgão respondeu apenas que aguarda a aprovação da Anvisa e a orientação do Ministério da Saúde sobre o assunto.
Com informações do NSCTotal