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“É FLOYD-19”: o racismo por trás da marca Crossfit

O fundador e CEO da CrossFit Incorporation, Greg Glassman, fez um comentário irônico associando a pandemia com a morte de George Floyd.

09/06/2020 12h30 | Por: Redação

O fundador e CEO da CrossFit Incorporation, Greg Glassman, fez um comentário irônico associando a pandemia com a morte de George Floyd, um homem negro, nos Estados Unidos, por um policial branco. A morte de Floyd gerou uma onda de protestos anti-racismo no país e em várias partes do mundo. Entenda os desdobramentos da atitude racista do fundador da CrossFit e como a marca foi afetada.

Levantamento de peso olímpico. Ginástica. Exercícios metabólicos mono-estruturais ou, como todos conhecem, o “cardio”. Com o lema “The Sport of Fitness”, o crossfit é, hoje, um dos esportes que movimenta adeptos por todo o mundo. São quatro milhões de atletas, em 140 países. A prática foi criada nos Estados Unidos, por Greg Glassman, fundador e CEO da CrossFit Incorporation, e as academias afiliadas pagam anualmente US$ 3 mil de royalties, em média, pelo uso do nome. Não é apenas uma modalidade. É também uma marca.

Apesar de parecer um treino pesado para quem vê o circuito e os equipamentos, vende a ideia de que o “crossfit é para todos”. Da criança até o idoso, segundo a marca, todos podem praticar a modalidade. A nomenclatura tem origem na palavra comunidade, de origem latina, communitas, e communis, “comum, geral, compartilhado por muitos, público”. Diante de simbologia – e por que não dizer filosofia? – vivida em cada academia filiada, parece que não apenas seus praticantes esperavam um posicionamento mais engajado da marca como não esperavam uma atitude racista nem de deboche do dono da marca. Ainda mais ligando duas grandes tragédias atuais, que são a morte do Floyd por asfixia, filmada inclusive, e as mortes por Covid-19, que igualmente provocam impossibilidade de respirar em muitos casos. 

No último sábado (6), o CEO fez um comentário nas redes sociais, ironizando um post feito pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) sobre racismo. A postagem do instituto diz que o racismo é uma questão de saúde pública. Em tom irônico, Glassman respondeu ao tuíte com “É FLOYD-19”. Mas o efeito negativo do comentário do dono da Crossfit parece ter produzido mais efeito para sua marca do que ele esperava. “Sendo um problema de origem moral, social e histórica, o racismo põe – e muito! – em xeque aquilo que o nosso esporte prega. Afinal, uma pregação sem atitude nada mais é que uma palavra vazia, oca”, destaca, desapontado, Vinicius Bona, crossfitter há três anos, na cidade de Tubarão. 

A resposta dos filiados  
Após o posicionamento do CEO, centenas de boxes de crossfit começaram a retirar a marca criada pelo empresário. É o caso da Meet U Crossfit, academia localizada em Criciúma, Sul de Santa Catarina. Quando soube da fala de Greg Glassman, Ricardo Duca Martins, proprietário da Meet, ficou surpreso e não teve dúvidas em se posicionar. “Já estávamos descontentes com a falta de apoio por motivo da pandemia. Antes era apenas uma questão econômica da Crossfit em relação aos filiados. Agora, é algo grave. O Crossfit sempre se posicionou como uma atividade “para todos” voltada para a comunidade. A declaração do Glassman foi totalmente infeliz”, ressaltou Ricardo.  Agora as academias também não precisam mais pagar royalties para a Crossfit. E a modalidade se descolou da marca.

Por isso, nesta segunda-feira (8), através das redes sociais, o box comunicou que o desligamento com a marca. “Não concordamos e não queremos estar de nenhuma maneira associados. Não podemos voltar atrás na história para fomentar sentimentos ultrapassados à custa de muito sacrifício. O Brasil tem uma ligação direta com essa luta e nós não daremos qualquer suporte a movimentos ou ideias excludentes”, revelou a nota. Entre as parceiras que anunciaram o fim da relação comercial com a Crossfit está a marca esportiva Reebok. As marcas tinham um relacionamento muito próximo desde 2011, quando a Reebok começou a patrocinar os Crossfit Games, competição internacional da modalidade. Naquele ano, a premiação do torneio aumentou em dez vezes graças ao novo patrocínio.

Ricardo ainda lembra que Glassman também foi criticado por um e-mail que ele teria enviado a um afiliado que pediu uma resposta da empresa sobre protestos anti-racistas nos EUA. “Acredito sinceramente que a quarentena afetou negativamente sua saúde mental”, escreveu ele à autora do email, antes de chamá-la de “ilusória”. “Você pensa que é mais virtuoso do que nós. É nojento”, disse Ricardo.  

Desculpas? 
Em um comunicado divulgado na conta da CrossFit no Twitter, Glassman pediu desculpas pela mensagem racista e disse que estava tentando fazer um argumento sobre os bloqueios para conter a propagação do coronavírus, com o qual ele não concorda. “Eu, o CrossFit HQ e a comunidade CrossFit não aceitamos racismo. Eu cometi um erro com as palavras que escolhi ontem”, disse ele. “Meu coração está profundamente triste com a dor que causou. Foi um erro, não racista, mas um erro. Floyd é um herói na comunidade negra e não apenas uma vítima. Eu deveria ter sido sensível a isso. Peço desculpas por isso”, completou. Mas parece que “erros” desse tipo nao estao sendo mais aceitos. “Começamos a enxergar melhor o racismo existente na palavra aqui, na brincadeira ali. Um olhar diferenciado. Tudo isso é racismo. Quando o direito do outro em ter sua existência é desvalorizado, em virtude de sua cor, dá legitimidade para os demais fazerem isso de novo (e repetidamente!). O racismo existe, está presente e precisa ser impedido”, finalizou o crossfitter Vinicíus Bona. 

Por Kamila Melo/Jornal Laboratório Fato e Versão

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