Conservado aos 83 anos (diz que é bem tratado pela mulher), seu Sabino relembra o início no futebol, as dificuldades para fundar o Ourinhos e os talentos que foram lapidados por ele.
Empatia e sabedoria: o homem de ouro do futebol de Tubarão
Conservado aos 83 anos (diz que é bem tratado pela mulher), seu Sabino relembra o início no futebol, as dificuldades para fundar o Ourinhos e os talentos que foram lapidados por ele.
Seu José Sabino, como foi o início do senhor com o futebol?
Fui uma pessoa que passei “um pouco” de trabalho na vida. Eu não conheci a minha mãe. Na época não existia fotografia, então não a conheci. Então eu, com pena das crianças, formei uma equipe de futebol para tirar a gurizada da rua. Fui atrás e procurei alguns “engraxates” e convidei eles para jogarem. Dali em diante comecei a trabalhar com isso. Na época não era o atual Ourinhos ainda, era apenas uma escolinha de futebol. Comecei em um campinho no bairro Oficinas, depois fui para o campo do Pedreira. Assim começou o meu trabalho.
Mas o senhor chegou a jogar futebol? Em quais times?
Sim, eu joguei muito tempo no juvenil do Ferroviário, mas muito contrariado, porque meu pai era hercilista. Dava um trabalho danado (risos). Depois joguei um tempo do Hercílio Luz para dar uma alegria pra ele. Então treinei nos dois.
Voltando à escolinha, depois de iniciar, quando surgiu o Ourinhos e por que o nome?
Eu montei uma escolinha e começamos a jogar. Aí peguei o nome deles para regularizar tudo certinho. Fui conhecendo os rapazes. Tudo começou no dia 1º de fevereiro de 1963. Lembro que tinha um menino “pretinho” que me chamou atenção. Era pobre, muito pobre, e eles sempre chamam a atenção da gente. Eu sismei de colocar o nome do time com o nome daquele guri. Um dia ele disse que chamavam ele de Ourinhos, mas com o verdadeiro nome de Pedro Paulo. Então eu peguei o apelido dele e partir daquele dia o time de futebol nosso foi chamado de Ourinhos Futebol Clube.
E as cores do uniforme do Ourinhos? É vermelho e preto por quê? É pelo Flamengo?
Não. É totalmente por causa do Ferroviário. Eu sou terrível contra o Flamengo (risos). Sou vascaíno. Mas meus filhos torciam cada um para o seu time. Nunca houve briga nenhuma.
E faz tempo que o senhor parou de ensinar futebol para os garotos?
Olha, eu parei faz pouco tempo. Faz uns três anos. Trabalhei aqui no Tubarão bastante tempo, antes eu trabalhei no Hercílio Luz.
E o futebol atual, seu Sabino? O Tubarão está em uma fase muito boa, né?
Bom, primeiro que temos que agradecer as pessoas que chegaram aqui, né. São pessoas dedicadas para montar uma equipe. Eles escolheram o Esporte Clube Ferroviário, depois o Tubarão e agora o nome está ainda mais confirmado. Estamos vendo uma transformação total no campo, muito bem organizado e estruturado. Tem categoria júnior e juvenil, tudo muito bonito.
Depois de todo esse tempo ensinando futebol aqui na cidade, algum jogador que se destacou bastante o senhor lembra?
Os jogadores que eu acreditava estouraram, né?! O Zenon, o Silvio Criciúma... O Zenon jogou comigo desde pequenininho, descalço ainda. O Silvio já pegou a época da chuteira (risos).
E o senhor sabia de onde eles vinham? Qual era a condição de vida deles?
Olha, eu sempre aparecia para dar o treino. De onde eles vinham eu não sabia. Mas eles passavam muita dificuldade, era muito sacrifício. Alguns não tinham alimento e eu trazia aqui em casa pra dar comida. Até sentiam fraqueza. Aí eles vinham e a gente acertava.
E na época o senhor conseguiu alguma ajuda, do Ferroviário por exemplo?
Não. Nenhuma ajuda. Eu comecei a juntar garrafa para poder comprar bola. As coisas que pertenciam ao Ourinhos eu comprei fazendo esse trabalho. Eu ia de porta em porta pedir garrafa vazia. Quando me davam eu vendia e comprava o material que eu precisava.
E os garotos pagavam para jogar futebol?
Não. Nunca houve mensalidade. Que eu me lembre nunca teve. Eu nem queria que tivesse.
O senhor chegou a trabalhar na Ferrovia?
Claro, eu sou aposentado da estrada de ferro. Sou ferroviário.
E hoje, depois de todo esse tempo, qual o principal conselho que o senhor daria às crianças que querem jogar futebol?
Olha, eu acho que a pessoa que tem um pouquinho de habilidade, se acha que tem essa qualidade, procure uma equipe qualquer e comece a treinar. Tem tanta gente boa ensinando hoje, né. Aqui no campo do Tubarão, esses dias vi um treino ali, tem uns professores bem categorizados, que são bons e ensinam muita gente. É só procurar, Hercílio ou Ferroviário, para se inteirar sobre isso.
Para finalizar, o senhor acha que o Tubarão tem condições de continuar subindo e disputar divisões melhores do Campeonato Brasileiro?
Pelo que a gente está vendo aí o Tubarão tá voando, né (risos). Chegou um grupo aí que eu não conheço, mas deram uma alegria muito grande pra gente, porque tudo foi transformado. As próprias pessoas que estão trabalhando são excelentes pessoas. Então a gente nota que é uma troca de ideias muito grande.