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Entrevista

Dionísio Bressan: "Deixei de estar tão próximo dele(Joares), pois não concordo com algumas pessoas que ele tem por perto

Um bate-papo exclusivo com Dionísio Bressan Lemos. Uma das referências na rizicultura do país.

15/10/2019 17h53 | Por: Redação

Nilton Veronesi entrevista: Dionísio Bressan Lemos

Dionísio recebeu o Noticom e falou sobre tudo: Copagro, Tubarão, Bolsonaro e é claro, sobre política
  • Naturalidade: tubaronense
  • Estado Civil: casado
  • Idade: 62 anos
  • Formação: médico veterinário
  • Tempo de Copagro: 40 anos

Você tem uma vivência dentro da rizicultura, dentro da Copagro, então seu nome sempre despertou o interesse público. Com essa atuação em prol dos plantadores de arroz, lá no início da carreira, em 1979, vinha na cabeça que, devido este trabalho, você teria hoje esse grau de credibilidade dos tubaronenses?

Dionísio - A minha educação sempre foi muito rígida e isso me fez desenvolver valores que eu acho muito importantes, valores morais, éticos, por isso, eu primo em teu uma conduta correta, posso errar, mas a minha vontade é sempre de acertar e fazer o melhor possível pelas pessoas. O meu trabalho e formação profissional também sempre foram dedicados nessa linha, preservando meus valores. Com isso, a gente acaba se envolvendo em muitas questões comunitárias. No meu bairro, enquanto jovem, eu sempre estive envolvido com as questões coletivas e na cooperativa não é diferente, quando você trabalha em uma cooperativa, você trabalha com o coletivo, então eu acabei desenvolvendo essa forma de agir. Me envolvendo em várias associações, tudo buscando o bem comum. Com isso, naturalmente, você acaba virando uma liderança no setor em que atua. No agronegócio, especialmente na agricultura, falando do arroz que é o principal produto da Copagro, nós acabamos nos tornando uma liderança regional, estadual e até federal. Quando fui presidente da Epagri, por 4 anos, não deixei de estar na Copagro, fiquei com vice-presidente. Na Epagri consegui conhecer todo o estado, todo o potencial do agronegócio catarinense e também ter acesso a caminhos nacionais, com relação a muitas culturas e criações. Tudo isso me ajudou a formar essa rede de influências que tenho hoje. Além de presidente da Copagro, hoje eu represento a Organização das Cooperativas do Brasil, na câmera setorial da cadeia produtiva do arroz, e como tal, estamos discutindo sempre todos os problemas que a rizicultura tem.

Você percebe que a rizicultura está sendo passada dos pais para os filhos ou você vê que os filhos que assumem estão mais voltados à venda das terras para desenvolvimento da região?

Dionísio - Essa redução da população do meio rural é um tendência mundial. A Europa hoje tem 5 ou 6% da população no meio rural, Estados Unidos e Japão não é muito diferente. O Brasil ainda tem 15% de sua população no meio rural. Estamos reduzindo e isso é natural. O problema do êxodo rural é acontecer de forma muito rápida e as cidades não estarem preparadas para receber toda essa nova população, não ter infraestrutura para dar dignidade à que vem do interior, e isso acaba gerando os conhecidos “bolsões de pobreza” que vemos nos arredores dos grandes centros. A agricultura nunca esteve com tão pouca gente quanto hoje e a tendência é só diminuir. O município de Tubarão não tem mais que 11% no meio rural. Mas, as produções estão crescendo, porque as atividades vem acompanhadas de tecnologias, maquinários, então hoje se produz muito mais, com menos pessoas. As propriedades estão aumentando de tamanho, está havendo um concentração de área de terra. Para explicar no arroz, por exemplo, SC já teve 20 mil produtores, hoje não tem mais que 6 mil, mas, planta-se e colhe-se mais do que antes. Aliás, a Epagri é a melhor empresa brasileira de pesquisa e extensão rural. Quando saímos da Epagri, em 2002, 100% dos municípios do estado tinham uma equipe técnica formada. Nosso primeiro orgulho na Epagri foi o equacionamento das dívidas e com isso, conseguimos convencer o governo de que a empresa era viável e merecia o concurso público proposto a fim de rearranjar toda a estrutura de SC, contratando cerca de 350 funcionários. Então, voltando a pergunta, a Epagri tem um papel muito importante na formação das pessoas, na sucessão das propriedades e na transferência de conhecimento de tecnologia, para que nós possamos ter esse modelo maravilhoso e sermos os primeiros produtores do país, em aves, cenoura, maçã, arroz... e tantas outras coisas boas que temos. Nosso estado é um berço de grandes empresas, como Sadia, Perdigão e Aurora, que surgiram porque aqui tinha produção de matéria prima.

Falando da grande dívida que a Epagri tinha e vocês equacionaram, sabemos também que o governo Amim teve muitos problemas financeiros herdados de outras administrações. Aí, quando chegou as eleições, surgiu o “Plano 15” com Luiz Henrique da Silveira. Politicamente falando, como foi esse baquecpara vocês?

Dionísio - Eu aceitei o sacrifício dos 4 anos que fiquei, a carga de trabalho era muito intensa, de muito desgaste. Então, eu já tinha convicção que eu não continuaria na Epagri. Claro que, assim como outras ondas políticas ocorreram no país, naquele ano não foi o desempenho do governo Amin que desagradou a população, mas, na época tínhamos o fator Lula, que era imbatível, então, o candidato do PMDB da época soube se posicionar bem em relação ao “fenômeno” Lula e venceu a eleição.

Você tem uma posição política mais voltada para a direita do que para a esquerda, podemos dizer?

Dionísio - Sim. Minha visão é sempre para o coletivo é muito importante. Nada pode ser feito no social se não tiver dinheiro e nessa questão eu sou liberal. Não há como um país sobreviver muito tempo sem o ponto de vista liberal de produção e administração. Sou contra a estatização. Sou privatizante. Tudo que não for altamente estratégico tem que ser privatizado. O Estado é muito lento, é muito mal administrador. Temos que ter ações para o equilíbrio social na educação, saúde e segurança. Mas eu me considero de centro-direita.

Depois de muita insistência você participou de uma eleição, em 2008, venceu, porém não gostou da experiência. Saiu insatisfeito. Foi pelo fato de as coisas públicas, tomadas de ações, resolução de problemas, serem tão morosas, devagar, complicadas?

Dionísio – Veja bem, a democracia depende de instituições fortes. Seja no executivo, legislativo e judiciário. No Brasil temos um papel muito distorcido do trabalho a ser feito no legislativo. 90% das leis aprovadas na câmara de vereadores não tem importância nenhuma para a sociedade ou não é colocada em prática. Nós temos lei demais. Somos um país altamente regulado. São criadas leis todos os dias para aparentar a demonstração do serviço do legislador e isso me chateia muito. Esse é o primeiro ponto. Tem um episódio que uma senhora chegou até mim e disse, “já existe uma homenagem a minha mãe que tem um nome de rua e eu queria homenagear meu pai”. Conhecendo a família e o pai tinha certa relevância na comunidade eu perguntei, “mas qual rua você pensa em fazer isso?”, aí ela respondeu, “eu quero que você procure a rua e faça a homenagem”(risos). Olha só os absurdos que acontecem. Segundo ponto, as leis que realmente são fundamentais no executivo – municípios, estado e União – são as chamadas leis orçamentárias e a Lei de Diretrizes Orçamentárias e. Aí eu te pergunto, alguém cumpre o orçamento no nesse país? Então as duas leis que são fundamentais, que nenhum prefeito consegue administrar sem o orçamento aprovado, mas não é cumprido. Então pra que serve um vereador? Chega no terceiro, quarto mês o prefeito está mandando suplementação, remanejamento, altera tudo que foi feito. Então, acaba a função do vereador sendo desprezível, embora, repito, é fundamental termos instituições fortes.

Talvez, tua decepção com o legislativo tenha sido grande, pois na durante toda tua vida você exerceu posições de executar, tinha autonomia para resolver problemas tanto na Epagri, quanto na Copagro, e na câmara a coisa não era bem assim?

Dionísio – Exatamente isso. Sempre disse isso. No parlatório, no parlamento, você fala, fala, fala e nada acontece. Quem pode de fato mudar um município, mudar um estado, mudar a sociedade, são os executivos, no caso o prefeito, o governador ou o presidente. Estes tem papel fundamental. Eu me sinto mais executor que legislador. Como legislador não gostei. Se fosse para ser executivo, talvez pudesse ter contribuído mais.

Tu és filiado ao Progressistas, antigo PP, ainda?

Dionísio – Sou filiado, mas não vou no partido há 10 ou 12 anos.

Quem vê de fora, percebe que você sempre teve proximidade maior com a ala do senador Esperidião Amin, do ex-deputado Zonta, que propriamente a ala do progressista Joares Ponticelli. Hoje, qual sua relação com o prefeito?

Dionísio – Engano, engano... A candidatura do Joares a deputado, ela começou a acontecer pela nossas mãos. No dia que a ACIT inaugurou seu novo endereço no Minas Center. Aquilo foi comprado ainda no esqueleto e eu fazia parte da comissão que tinha também o “seu” Dite Freitas e o Argemiro Nunes. Eu era representante da cooperativa na associação. O Joares na época era vereador de 8, 10 meses de mandato. Depois da inauguração, eu, Joares e Miroca fomos ao Dom Camilo tomamos o primeiro vinho, o segundo, o terceiro e fomos até a madrugada comigo tentando convencer o Joares a ser candidato a deputado estadual, como forma de criar uma nova liderança política na região. Tínhamos acabado de perder uma eleição pro Genésio Goulart. Foi um trabalho de convencimento. Conversei com: Benito Botega, Zé Luiz Tancredo, Nara Capeller, Cássio Medeiros e fomos formando um grupo de apoio e organizamos, coordenamos e fizemos o Joares deputado. Então, minha relação com o Joares é muito próxima.

Mas hoje, qual a relação...

Dionísio – Deixei de estar tão próximo dele e me afastei do partido, porque não concordo com algumas pessoas que ele tem por perto, que me reservo ao direito de não nominar. Acho que alguns momentos essas pessoas colocaram a carreira do Joares em risco. Ele é um cara com potencial extraordinário, capacidade de trabalho excelente, um ótimo orador. Tubarão está muito bem servido de prefeito. Tem visão, tem relacionamento, tem conhecimento e tem capacidade, embora tenha ao lado dele algumas pessoas que eu não concordo e fiz minha opção de afastamento.

A maioria dos especialistas de agronegócio viram como um tiro no pé a decisão do governador Carlos Moisés na elevação da tributação dos agrotóxicos, defensivos, enfim...

Dionísio – Sabe qual a palavra moderna que se fala, inclusive adotada pela Universidade de Roma? Fitofarmaco. Pra dar uma conotação e mostrar claramente que os defensivos agrícolas - que o governador insiste em chamar de veneno, prejudicando toda a cadeia - estão para as plantas, assim como os remédios estão para os humanos.

Então, depois da elevação da tributação dos fitofármacos o governador acabou voltando atrás. Caso ele não tivesse cedido, qual seria o prejuízo pros rizicultores?

Dionísio – Eu tenho certeza absoluta que ele não conseguiria sustentar essa ideia. Nesse ponto a Assembleia Legislativa de Santa Catarina agiu rápido. Na discussão da lei 236, de autoria do deputado Marcos Vieira, ela foi aprovada por unanimidade, inclusive com os votos do PSL. Se isso fosse levado a frente, o que ia acontecer. O nosso arroz ia ficar de 6 a 7% mais caro. Se hoje nós não temos mais competitividade no mercado com o arroz gaúcho, que tem o ICMS menor que o nosso, se encarecesse nós íamos vender no prejuízo ou não vender. O governador estava muito errado porque? Não tem como aplicar num estado uma situação tributária, tarifária sobre produção, diferente de outros estados. Existe um acordo no Confaz, onde os 27 estados brasileiros são subescritores, em que reduz a base de cálculo para operações interestaduais na venda de fitofármacos e zera nas operações dentro do estado. Então Santa Catarina seria a exceção. Os 27 secretários da fazenda no Brasil assinaram esse acordo, inclusive o de Santa Catarina. Então, como se assina um acordo e de repente quer criar uma tributação diferente? O governador errou numa proporção jamais vista. Erro estratégico, econômico e político. Político porque criou um desgaste enorme desnecessário, era só seguir o fluxo (acordo). Ele quis ser diferente de todo mundo. Econômico porque ele virou o garoto propaganda contra os produtos de Santa Catarina dizendo que nosso estado estava envenenando as plantas e os animais...

Sendo que Santa Catarina é referência no uso dos defensivos, né Dionísio?

Dionísio – É o melhor estado do país. É o único que tem status sanitário que permite exportar para países europeus, para qualquer lugar do mundo, livre da febre aftosa. Temos controle sobre todas as doenças, pragas... Então o governador se tornou um garoto propaganda contra os produtos catarinenses, dizendo que eles são envenenados. Ele não conseguiria levar essa situação para frente, de tão absurda que ela é.

E o encontro com o presidente Jair Bolsonaro, você acha que ele vai dar solução aos problemas vividos pelos produtores?

Dionísio – Eu não tenho dúvida disso. Foi intensa a agenda nesse ano com relação a essa situação. Claro que nós estávamos lá defendendo os interesses da rizicultura. Mas os problemas que temos, cabe também pros produtores de trigo, cebola, alho, vinho... É um exemplo que todo mundo conhece. Você vai em qualquer supermercado e compra vinho chileno, uruguaio, argentino, mais barato que o produzido no Brasil. O nosso sistema tributa, e é isso que nosso governador não está entendendo, quem produz, aí nossos tributos ficam mais caros. No Paraguai, não existe tributação sobre o óleo diesel. Para produzir arroz é preciso de óleo diesel. Então meu custo aumenta. Não tem ICMS sobre energia elétrica. Enquanto aqui pagamos R$0,55 KW/h, no Paraguai, a energia que é produzida por Itaipu - que nós projetamos, que nós construímos e a metade é deles – é vendida por R$0,20 KW/h. Menos da metade. E gastamos energia para irrigação, para secar, para armazenar. Um trator agrícola que compramos aqui a R$180 mil, lá no Paraguai custa R$120 mil. E eles são produzidos aqui no Brasil, mas pra exportar não paga imposto, aí lá fica mais barato. Pudemos expor essas nossas situações ao presidente. Ele está ciente que o tratado do Mercosul tem que ser revisto, mas essa revisão vai ocorrer paralelamente com a Reforma Tributária. A reforma vai corrigir essa distorção. A partir do momento que se tributa o consumo e não a produtividade, a competitividade aumenta.

Encontro dos rizicultores com o presidente foi noticiado com exclusividade por Noticom

De 0 a 10 pro presidente Jair Bolsonaro.

Dionísio – Nota 6. Não concordo com radicalismo, nem de direita, nem de esquerda. Embora ele seja necessário para essa transformação do país, ele erra muito, principalmente quando abre a boca.

De 0 a 10 pro governador Moisés.

Dionísio – Esperança, eu torço que dê certo. Não adianta fazer a política do quanto pior, melhor. Eu torço para o governo Moisés dar certo, mas não vai ser com essa postura radical que ele tem tido, sem ouvir os setores, o parlamento. Ele não tem experiência administrativa, então ele precisa ouvir mais a sociedade, para errar menos. Então dou nota 5.

De 0 a 10 pro prefeito Joares Ponticelli.

Dionísio – Nota 7. Considero 7 uma excelente nota. Eu tinha um professor de farmacologia, Antônio dos Santos, que dizia, “10 só pra Deus. 9 pros doutores que escreveram os livros. 8 pros titulares. Vocês no máximo um 7”. A exceção de algumas questões de equipe. Algumas, pois tem muita gente boa ali, acho que Tubarão não teria outro prefeito que faria o que ele está fazendo e temos que dar o reconhecimento.

Nenhum convite ou projeto especial faria você mudar de ideia e voltar pra política?

Eu recebo convites com certa frequência. Neste ano já recebi do MDB, para ser o candidato. Convites informais são feitos. Já tive essa vontade, hoje não mais. Não sou mais criança, tenho 63 anos. Experiência eu tenho, poderia contribuir, mas não tenho essa ambição. Torço pra quem esteja lá faça a coisa acontecer, como o Joares está fazendo. E pelo que vejo, temos pelo menos mais três pré-candidatos, Tubarão está bem servido de nomes. Nossa cidade vive um momento diferenciado. Investimentos, vinda da Intelbrás. Nesse período de crise, poucas cidades tem conseguido investimento como Tubarão, então a cidade está se preparando bem para o crescimento.

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