O tubaronense aparece em vídeo com casal preso em operação da polícia federal, que investiga crimes em licitação na compra de equipamentos de robótica
A Polícia Federal registrou encontros entre um casal "especializado na prática de crimes de lavagem de capitais" e um deputado federal eleito pelo Distrito Federal, um ex-secretário de Santa Catarina e um ex-diretor do Ministério da Saúde.
O casal Pedro Magno Salomão e Juliana Salomão foi preso durante a operação Hefesto, deflagrada no último dia 2, que investiga suspeita de fraudes em licitação e lavagem de dinheiro em Alagoas por meio da compra de equipamentos de robótica com verba federal.
No último domingo (4), o Fantástico mostrou que a investigação flagrou trocas de dinheiro vivo envolvendo Pedro Salomão e um motorista do agora ex-assessor parlamentar Luciano Cavalcante. Mas a PF fez outras imagens de encontros envolvendo Pedro e Juliana Salomão.
Vigilância
Durante as investigações, a Polícia Federal suspeitou de transferências feitas por uma das empresas investigadas no caso e um dos seus sócios para três empresas do casal Salomão. Entre setembro de 2021 e maio de 2022, foram repassados mais de R$ 1,4 milhões para as empresas de Pedro e Juliana.
Segundo os mesmos relatórios de inteligência financeira, entre novembro de 2021 e abril de 2022, Pedro realizou nove saques em dinheiro das contas das empresas que receberam os valores. Os saques variavam entre pouco menos de R$ 38 mil e R$ 49 mil e somaram cerca de R$ 416 mil.
O relatório de inteligência destacou que "as transações sugerem indícios de burla da destinação dos recursos" e a PF decidiu seguir Pedro e Juliana Salomão. No relatório preliminar da investigação, a que a TV Globo teve acesso, os policiais descreveram alguns dos encontros registrados.
Encontro no saguão do hotel
Em 23 de novembro de 2022, a PF registrou visitas de Juliana a agências bancárias da capital federal e de Pedro a uma lotérica da cidade. Os policias anotam que Pedro deixou a lotérica carregando uma "pequena bolsa vermelha".
No dia 24, pela manhã, Pedro foi monitorado indo até um hotel de Brasília. No saguão do local, ele aguardou até que dois hóspedes se aproximassem e o encontrassem nos sofás do local. Segundo a Polícia Federal, eram Cristiano e Lucas Esmeraldino.
À época do encontro, Lucas -- que havia disputado a eleição para deputado federal em outubro, sem ser eleito -- ocupava o cargo de secretário-executivo de Articulação Institucional do governo de Santa Catarina. O posto é exercido na capital federal, e ele foi exonerado na troca de governo, em janeiro. Cristiano é seu irmão mais velho.
O relatório também aponta que Pedro Salomão teria se encontrado com Cristiano mais uma vez, no mesmo hotel, em 30 de novembro. Os investigadores não identificam se algo foi entregue por Pedro Salomão aos irmãos.
Por telefone, Lucas Esmeraldino negou à TV Globo conhecer Pedro Salomão e disse não se lembrar do encontro. "Devem estar me confundindo com outro Lucas, com outra pessoa", disse ele. "Eu não sei a vida particular de cada um, cada um tem que dar conta do seu CPF. Eu dou conta do meu CPF e cada um dá conta do seu", reforçou.
Os agentes seguiram vigiando Pedro Salomão, que após o encontro no hotel passou por um prédio de escritórios da cidade e depois por uma agência bancária, onde trocou de carro com a esposa e de onde saiu com uma bolsa vermelha.
Após passar rapidamente em um café, Pedro Salomão seguiu para um centro de compras de Brasília. Ali ele se encontrou em uma churrascaria com um homem de boné azul, que já estava no local.
De acordo com o relatório, algum tempo depois um veículo "estaciona em frente à mesa, momento em que o indivíduo de boné azul aponta para o veículo. Pedro então se levanta, dirige-se ao veículo indicado, abre a porta traseira e, aparentemente, retira algo de dentro de sua bolsa vermelha (...) e coloca no interior do veículo prata, retornando à mesa e se despedindo do homem de boné azul."
Depois, o homem de boné azul vai até o veículo, que estava durante todo o período com um motorista, e parte. Os investigadores identificaram o homem como sendo Gilvan Máximo (Republicanos-DF), à época deputado federal eleito e hoje no exercício do mandato.
Ainda segundo a polícia, o carro em que Pedro Salomão deixou algo estava em nome de Danilo Ribeiro Machado. Os investigadores apontam que Danilo e Gilvan aparecem juntos em fotos de redes sociais de Danilo. O g1 apurou que há um secretário parlamentar com este nome no gabinete de Gilvan na Câmara dos Deputados.
A PF não identificou o que teria sido entregue no encontro mas, por meio de sua assessoria, Gilvan Máximo disse que ao g1 que vendeu dois relógios a Pedro Salomão, que decidiu pagar pelos itens em dinheiro.
Churrascaria
Um terceiro registro feito pelos investigadores acontece no dia 26 de novembro. Pedro Salomão vai a uma agência bancária, onde faz grandes saques em dinheiro, e no fim do dia segue à mesma lotérica dos dias anteriores. Lá, entra inclusive em área restrita a funcionários.
No dia seguinte, pela manhã, Salomão passa por mais uma agência bancária -- onde faz novos saques -- e segue para uma churrascaria na região central de Brasília. Lá, segundo a Polícia Federal, fica dentro do carro no estacionamento até que outro veículo se aproxima.
Os investigadores apontam que o motorista do carro que chega "vai ao encontro de Pedro Magno no seu veículo (...) e recebe algum 'objeto de Pedro Magno' e logo após receber esse “objeto, o condutor do veículo deixa esse “objeto” no veículo e ambos se deslocam para o interior da churrascaria”. O encontro também foi registrado em vídeo.
Dentro do restaurante, os investigadores identificaram o condutor do veículo como sendo Laurício Monteiro Cruz. Ele foi diretor de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde entre 2020 e 2021. Segundo a PF, o carro em que ele chegou pertence à sua esposa.
Em julho de 21, Lauricio foi exonerado após ter dado aval para que um reverendo e a entidade presidida por ele negociassem 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca em nome do governo brasileiro com a empresa americana Davati. O negócio não foi realizado e a operação foi investigada pela CPI da Covid após acusações de pedidos de propina.
À época do encontro com Pedro Salomão, Laurício trabalhava na Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Ele segue no cargo.
Por telefone, ele afirmou à TV Globo que não conhece Pedro Salomão e que não recebeu nenhum objeto no estacionamento da churrascaria. Laurício disse ainda que não tem nenhum envolvimento na investigação.
Investigações continuarão
A rotina de saques levou a PF a considerar Pedro e Juliana Salomão "especializados na prática de crimes de lavagem de capitais, ocultando e dissimulando bens, direitos e valores provenientes de desvios de recursos públicos das mais variadas naturezas e oriundos de diversos entes públicos."
Segundo a polícia, os fatos encontrados pelos investigadores também serão apurados e podem dar início a outras investigações a partir do compartilhamento de informações.
Lucas Esmeraldino se pronunciou a respeito, confira sua resposta abaixo:
''Eu vivi praticamente dois anos no hotel Golden Tulip em Brasília, minha casa era o hotel. Seja como então Secretário de Articulação Nacional, ou como cidadão e político, sempre recebi e conversei com quem me procurava, tomava café, etc. Nunca mudei minha rotina, e não mudarei. E o mais importante, minhas conversas sempre foram as mais republicanas possíveis.
Ora, se conversar com pessoas posteriormente investigadas por supostos quaisquer delitos for motivo para suspeição, de fato, não só eu, mais a grande maioria dos políticos e empresários estão em constante suspeita. Não se tem como adivinhar quem é quem, o que fazem ou deixam de fazer.
Não conheço e não me recordo da pessoa mencionada na matéria jornalística, e pelo que constatei da reportagem, se trata de investigação relativa à aquisição de equipamentos de robótica pelo Estado de Alagoas.
Como Secretário de Articulação Nacional nunca tratei, até porque não seria de minha competência, da compra de equipamentos ou serviços para a área da Educação e, pelo que tenho conhecimento, não há contratos da Secretaria de Estado da Educação neste sentido. Mas tais informações podem ser confirmadas diretamente com mencionada Pasta.''